Instituto Pensar - Mortes de trabalhador que não pode ficar em casa sobem 60%

Mortes de trabalhador que não pode ficar em casa sobem 60%

por: Eduardo Pinheiro 


BRT lotado em direção de Campo Grande. Foto: Domingos Peixoto / Agência Globo 

Enquanto lideranças políticas tentam providenciar a compra de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas sem doação ao Sistema Único de Saúde (SUS), muitos trabalhadores formais que não puderam ficar em casa durante a pandemia e ainda não foram vacinados estão na mira do coronavírus. Segundo levantamento exclusivo do El País, frentistas de posto de gasolina, por exemplo, tiveram um salto de 68% na comparação das mortes entre janeiro e fevereiro de 2020, pré-pandemia, e dois dos piores meses da crise sanitária, no início de 2021.

Trabalhador vulnerável na pandemia

Também duramente afetados pela pandemia, operadores de caixa de supermercado perderam 67% mais colegas no mesmo período, motoristas de ônibus tiveram 62% mais mortes e vigilantes, que incluem os profissionais terceirizados que monitoram a temperatura em shoppings, houve 59% de mortes a mais.

Entre os dois primeiros meses de 2020, quando a pandemia ainda não havia causado nenhuma morte no país, e os dois primeiros de 2021, quando grande parte das UTIs brasileiras já não dava conta de tratar de todos os pacientes que chegavam em estado grave, um terço a mais de mortes foi registrado considerando a soma de todas as atividades profissionais. O salto é de 8.633 em 2020 para 11.424 em 2021.

Novo Caged

As conclusões vêm de uma análise do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Novo Caged, ligado ao Ministério da Economia. O sistema coleta, mês a mês, informações sobre contratos formais de emprego, inclusive o motivo de encerramentos. Morte é um deles, embora não seja informada a causa. Por isso, não é possível saber se todo o contingente de óbitos se deve apenas à Covid-19, mas é possível adaptar o conceito de "excesso de mortes? com base neste banco de dados.

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O conceito de "excesso de mortes? é muito utilizado por especialistas durante pandemias para tentar avaliar o impacto da doença sobre a vida da população, que pode ser de maneira indireta como a falta de vagas no hospital num caso de urgência. Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), por exemplo, o Brasil teve mais de 275.500 mortes por causas naturais a mais que o esperado para o país em 2020, um excesso de óbitos de 22%.

Trabalhador do comércio

O pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro da Coppe/Universidade Federal do Rio de Janeiro, divulgou no início da pandemia um estudo mapeando o risco das variadas atividades profissionais. Segundo a primeira avaliação, trabalhadores do comércio tinham 53% a mais de risco de contágio de Covid-19, os da saúde 50% e os professores até 70% caso nenhuma medida fosse tomada, com portas abertas e aulas presenciais.

"O caso do pessoal do comércio é muito interessante?, diz Lima. "Se ele continua aberto porque é essencial, vai continuar um risco alto.? O problema, diz, é que várias alterações foram feitas na definição do que é uma atividade essencial, logo nos primeiros meses da pandemia.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou incluir academias de ginástica e salões de beleza entre as atividades que não poderiam fechar. Recentemente primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a entrar por sua escolha, Kassio Nunes Marques, conseguiu liberar cultos e missas pelo país no pior momento da pandemia.

Profissionais da saúde

Profissionais da saúde também aparecem na lista do Caged, e os maiores números de mortes foram registrados entre os profissionais de enfermagem, especialmente os técnicos. Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, havia escassez de equipamentos de proteção individual, os EPIs. De fevereiro a abril, o número de mortes de técnicos de enfermagem captadas pelo Caged chegou a saltar de 44 para 84 em um mês.

Professores na volta às aulas

Em todo o Brasil, houve pressão de pais e diretores de escolas particulares para a volta das aulas presenciais, o que acarretou a volta às aulas presencias depois de julho do ano passado. Entre professores contratados para lecionar no ensino fundamental, houve 137 mortes no primeiro semestre e 178 no segundo. Em janeiro e fevereiro, 83 contratos formais de professores do fundamental foram encerrados por morte, contra 42 no mesmo período do ano passado.

Com informações do El País



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